Aranha

30-12-2020

São pequenos, mas letais e causadores de aracnofobia! Depois de descobrir os seus segredos, irá ficar com sensações mistas... De fascínio e de horror! 

Escrito por: Simone Baseggio                                                                                                  Tempo de leitura: 7min   

Enquadramento

As aranhas são animais pertencentes ao Filo Arthropoda (Clade Ecdysozoa), ao subfilo Chelicerata. Enquanto as aranhas do mar estão na classe Pycnogonida, as aranhas terrestres, conjuntamente com os escorpiões, estão na classe Arachnida. A divergência ocorre na ordem: as aranhas são da ordem Araneae!

Sabia que...

Apesar de também pertencerem ao Filo Arthropoda, os insetos pertencem a um subfilo diferente - o Hexapoda. Logo, é errado dizer-se que as aranhas são insetos... Um equívoco relativamente comum!

Morfologia

As aranhas apresentam as características comuns aos restantes animais do Filo Arthropoda. Mais especificamente, o seu corpo é dividido em duas partes, o cefalotórax e o abdómen, separados pelo pedicelo. Ao contrário dos escorpiões, o abdómen não é segmentado e não tem ferrão (uma das principais características que os distingue). É de notar que uma Subordem, Mesothelae, tem abdómen segmentado.

Focando-nos no cefalotórax, as aranhas não possuem mandíbulas, mas sim quelíceras, acompanhadas por outras peças bocais. Segue-se um par de apêndices chamados pedipalpos, utilizados pelos machos durante a reprodução[1]. Posteriormente, seguem quatro pares de patas. É interessante que, apesar de estas serem sempre articuladas e possuírem vários segmentos, as patas apresentam adaptações aos ambientes em que vivem: por exemplo, podem possuir maiores quantidades de pêlos que aumentam a tração em superfícies como folhas e troncos de árvores, ou podem apresentar modificações, nas aranhas mais estritamente dependentes das suas teias, em que as estruturas facilitam a montagem das mesmas[2]. No topo e na frente, encontram-se oito olhos simples. A capacidade de visão varia de espécie para espécie, mas existem algumas que vêm melhor que insetos. Algumas espécies perderam pares de olhos, evolutivamente, mas a maioria possui os oito pares. É também no interior do cefalotórax que se encontram os gânglios nervosos e as glândulas que produzem veneno, para matar as presas[2].

Passando para o abdómen, é onde estão localizadas as glândulas sericígenas (onde é produzida a seda para as teias), os órgãos reprodutores, o coração, que bombeia a hemolinfa para o hemocelo, a parte final do sistema digestivo e os túbulos de Malpighi e, por fim, os pulmões foliáceos e as traqueias, para que se dê a respiração2. Os sistemas respiratório, digestivo e circulatório não serão explorados em detalhe, uma vez que não diferem particularmente de outros organismos taxonomicamente próximos.

Curiosidades Evolutivas

As aranhas estiveram entre os primeiros colonizadores terrestres, tendo evoluído para o efeito há cerca de 400 milhões de anos[3].

Inicialmente, a seda destes antepassados era usada como proteção, para cobrir os ovos ou fendas que possibilitavam a fuga. Posteriormente evoluíram no sentido de se tornarem verdadeiros arquitetos de redes, teias e armadilhas[3].

Partindo de um ancestral de maiores dimensões, com um exoesqueleto mais duro que oferecia maior proteção, ainda incapaz de tecer teias, a forma das aranhas atuais diversificou muito, entretanto. Seguem dois exemplos dignos de menção:

Finalmente, para os mais curiosos, a BBC preparou uma lista "Top 10" de aranhas que consideraram visualmente apelativas (as suas fotografias estão na galeria): https://www.bbc.com/earth/story/20150410-ten-surprisingly-beautiful-spiders. 

Construção de teias[4][5]

As teias são constituídas de seda, que é uma fibra proteica natural, simultaneamente forte e flexível. No abdómen, estão localizadas fieiras, e de cada uma delas sai apenas um fio. No interior da aranha a seda é líquida, e é puxada por um dos apêndices. Antes de solidificar, ainda atravessa duas estruturas que lhe conferem a textura final.

Mas nem todas as aranhas criam as suas teias com o propósito de conseguir alimento. Para que função é que as constroem, então? Comummente, as aranhas usam a seda como proteção para os ovos que põem, criar caminhos de fuga, escondendo fendas ou outros esconderijos, ou depósitos de esperma, para machos... Mas eis algumas muito peculiares (com imagens na galeria):

- fixando a seda em locais mais altos, podem ancorar-se e prevenir quedas, caso tropecem, podendo trepar o fio até o local onde o prenderam anteriormente;

- construção de invólucros de seda onde se podem esconder e dormir, durante o dia, como se fossem sacos de cama;

- uma espécie de aranha é capaz de construir teias aquáticas, submersas, que captam bolhas de ar e permitem a respiração destes animais, que passam uma boa parte da sua vida neste habitat;

- a mais curiosa é uma estratégia denominada ballooning, em que as aranhas trepam para locais mais elevados, apontam o abdómen em direção a terrenos circundantes de menor altitude, e "disparam"! Quando em grande número e em grandes superfícies, permitem enormes coberturas de planícies ou vegetação com as suas teias. Isto permite a fácil dispersão espacial dos juvenis e jovens adultos e a colonização de novos ambientes... Surpreendente!

Para mais informações acerca dos diferentes tipos e formas de teias, recomendamos vivamente a seguinte página do Natural History Museum: https://www.nhm.ac.uk/discover/spider-webs.html.

Estratégias de predação[4][6]

Uma estratégia comum e conhecida é a construção de teias e a apanha de presas que não se conseguem libertar da seda. Mas encontrámos algumas estratégias que deixarão qualquer um boquiaberto. Aqui seguem algumas (com fotos na galeria):

- alguns predadores escondem-se e esperam, por exemplo, perto de flores. Quando os insetos se aproximam das flores, as aranhas preparam emboscadas súbitas e mortais;

- outras aranhas têm a capacidade de saltar e perseguem as suas presas ativamente, apanhando-as num salto final que culmina com uma refeição;

- a mais curiosa é a estratégia adotada pelas "aranhas piratas", que irão procurar teias de outras aranhas e imitar comportamentos de possíveis presas - fingem ficarem envolvidas na teia, e quando a aranha que é "dona" da teia sai do esconderijo para verificar o que capturou, ataca-a subitamente... Que piratas, sem escrúpulos!

Uma vez capturada a presa, segue-se a incisão das quelíceras. Algumas aranhas conseguem identificar pontos mais frágeis no corpo das presas, e é aí que mordem[7]. Algumas espécies segregam veneno, que libertam neste momento. Outras limitam-se a morder e a libertar secreções do trato digestivo. Ambas as formas contribuem para a liquefação das estruturas internas do animal capturado. Por fim, tendem a sugar os conteúdos internos das presas. Existe uma fotomontagem que inclui estes processos e pode ser acedida pelo seguinte link: https://www.arkinspace.com/2012/04/caught-in-web.html 

Sabia que...

Geralmente, as aranhas são consideradas exclusivamente predadores. E todas são. Contudo, existe uma espécie, sim, uma, Bagheera kiplingi, de entre mais de 45000, que vive à base de uma dieta herbívora[8]! 


Bagheera kiplingi; Retirado de:  https://phys.org/news/2009-10-herbivory-spider.html 

Rituais de acasalamento[9][10][11]

Ainda não adquiriu fascínio por aranhas? Ou será que terei despertado medo e desgosto? Prepare-se, porque ainda não acabou. Tal como na predação, existe variedade no que diz respeito ao acasalamento, mas o mecanismo consiste, principalmente, na inserção dos pedipalpos, pelos machos, nas aberturas abdominais da estrutura genital da fêmea. Posteriormente, o esperma é libertado e dá-se a fecundação dos ovos.

Agora, onde se verifica diversidade? Aranhas de algumas espécies só acasalam uma vez na sua vida, enquanto outras mais que uma vez. Pode ser com o mesmo parceiro, ou não. Quanto aos machos, alguns são capazes de sobreviver após o acasalamento e até copular com a mesma fêmea poucas horas depois... mas muitos aguardam um destino terrível - morrem pouco depois de acasalarem. Alguns por morte natural, mas por vezes verifica-se canibalismo... Sim, devorados pelas fêmeas, suas parceiras! Para fugir a este destino assustador, uma espécie de aranhas asiáticas, Nephilengys malabarensis, evoluiu de modo a copular remotamente. Após inserir os pedipalpos... fogem! Claramente não gostam de ser alvos de canibalismo. Os órgãos perdidos permanecem no interior das fêmeas e continuam a libertar esperma por um período de tempo, e é neste intervalo que os machos fogem e se escondem!

Capacidades Cognitivas

Para finalizar, é válido afirmar que as aranhas possuem alguma inteligência. Os comportamentos anteriormente explorados demonstram a capacidade de planear, aprender e até prever cenários futuros. Os seus sentidos são relativamente apurados, e são capazes de interpretar a informação sensorial recebida[12].

Pensa-se que tenham inteligência comparável à da maioria dos insetos, sendo que aranhas da espécie Portia fimbriata são as que recebem destaque. Estas apresentam comportamentos mais elaborados no ato de predação, e se quiser ler mais sobre as mesmas, eis uma leitura interessante: https://www.minibeastwildlife.com.au/resources/portia/ 

Curiosidades adicionais recomendadas[13]: (de leitura muito extensa) https://australian.museum/learn/animals/spiders/spider-facts/ 

Galeria

Referências

Gerais: Slides e aulas de Biologia Animal 2020/2021 

Específicas: 

1- Akpan, N. (2015). Male spider genitals have some nerve. PBS. Disponível em:

https://www.pbs.org/newshour/science/male-spider-genitals-nerve. Acedido a: 30/12/2020.

2- Australian Museum. (2018). Spider Structure. Disponível em: https://australian.museum/learn/animals/spiders/spider-structure/. Acedido a: 30/12/2020.

3- Australian Museum. (2018). Spider Origins. Disponível em: https://australian.museum/learn/animals/spiders/spider-origins/. Acedido a: 30/12/2020.

4- Hendry, L. (Data desconhecida). What are spider webs made of? And how do they spin them?. Natural History Museum. Disponível em:

https://www.nhm.ac.uk/discover/what-are-spider-webs-made-of.html. Acedido a: 30/12/2020.

5- Hendry, L. (Data desconhecida). Spider webs: not just for Halloween. Natural History Museum. Disponível em: https://www.nhm.ac.uk/discover/spider-webs.html. Acedido a: 30/12/2020.

6- The Ark in Space. (2019). Caught In The Web: How Spiders Eat their Prey. Disponível em: https://www.arkinspace.com/2012/04/caught-in-web.html. Acedido a: 30/12/2020.

7- Segovia, J., Del-Claro, K., Willemart, R. (2015). Delicate fangs, smart killing: the predation strategy of the recluse spider. Animal Behaviour: 101; pp. 169-177. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0003347214004783. Acedido a: 30/12/2020.

8- Phys.org. (2009). Herbivory discovered in a spider. Disponível em: https://phys.org/news/2009-10-herbivory-spider.html. Acedido a: 30/12/2020.

9- Levi, L. R. (2020). Spider. Encyclopaedia Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/animal/spider-arachnid/Eggs-and-egg-sacs. Acedido a: 30/12/2020.

10- Tomas, A. (2008). Spiders have some seriously creepy sex habits. NBC News. Disponível em: https://www.nbcnews.com/id/wbna28353590. Acedido a: 30/12/2020.

11- Lewis, T. (2013). Tough Love: Male Spiders Die for Sex. LiveScience. Disponível em: https://www.livescience.com/37536-spiders-die-for-sex.html. Acedido a: 30/12/2020.

12- Robson, D. (2020). Spiders think with their webs, challenging our ideas of intelligence. NewScientist. Disponível em: https://www.newscientist.com/article/mg24532680-900-spiders-think-with-their-webs-challenging-our-ideas-of-intelligence/#ixzz6jCtzlwhX. Acedido a: 30/12/2020

13- Australian Museum. (2019). Spider Facts. Disponível em: https://australian.museum/learn/animals/spiders/spider-facts/. Acedido a: 30/12/2020
Textos originais de Mafalda Martins, Marta Matos e Simone Baseggio 
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